Páginas

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

verde marginal

A cor, o tom e a textura passavam uma mensagem invisível. Não era questão de valor estético. Havia certo apelo visual, mas o grande lance ia bem além da tal "beleza exótica". Tratava-se do choque nos terceiros e da voz propagada através dos fios capilares. O cabelo desgrenhado pintado de verde gritava. A dona das madeixas era o destaque rebelde em meio em meio à multidão de loiras oxigenadas e ruivas descoladas de salão. Não se encaixava em padrão algum (nem no contra-padrão). Chamava atenção, enrijecia-se com os olhares e ria com o burburinho que lhe perseguia. Adorava essas coisas. Sentia-se fora do "esquema", especial com o sentimento de repúdio que o povo nas ruas não hesitava em lhe agraciar. Até que parou, de sobressalto. À sua frente, a alguns poucos metros na mesma calçada, um sujeito chamou sua atenção. Ela se controlava pra não ficar boquiaberta. Ele se aproximou. Sorriu e tentou o flerte, enquanto a moça permanecia estática. Encararam-se por alguns segundos, ambos sem reação. O silêncio tornou-se constrangedor. O rapaz, desconfortável com a indiferença, riu de forma amarela e seguiu caminhando. Chegou a olhar pra trás.

"Não preciso disso", pensou a garota. Respirou aliviada. 

A cor, o tom e a textura: no penteado do rapaz jazia o mesmo verde. Achou absurda a ideia de dividir a marginalidade que devia ser apenas sua. Seu grito era único e devia continuar assim. Aquele mundo, fora de qualquer eixo, era apenas dela.